Há muito tempo eu desisti do futebol, não eu não quis dizer jogar! De jogar eu desisti há
milénios (meu único talento, ser
goleiro, nunca foi muito apreciado). Eu estou falando de torcer, me emocionar com uma partida, arriscar meu humor e minha alegria ao assistir meu
time em campo. Ainda lembro perfeitamente quando isso aconteceu: final do Mundial
Interclubes de 1995 (portanto há 14 anos atrás). Aquela era uma situação perfeita, o
Grêmio vinha de uma campanha linda: Brasileiro, Libertadores, e depois de vários anos
havíamos chego ao mundial. Foi uma partida difícil contra o
Ajax,
time holandês desconhecido do público brasileiro até então (mas todo
gremista nunca mais esqueceu este nome), o
Grêmio lutou
bravamente, teve o xerife da
zaga Rivarola expulso no meio do jogo e levou a partida para os penaltis. Foi nesse ponto que tudo fez sentido para mim. As cobranças começaram a favor do
Ajax e o
Grêmio estava por um fio, então momentos antes da cobrança derradeira o jogador holandês se preparou para a cobrança e
Danrlei estava no
gol.

O consagrado
goleiro gremista usou uma
tática (idiota) que era muito familiar para mim: apontar qual o lado que o jogador iria chutar! Nossa, eu fazia isso muito e sempre, sempre dava errado. Mas é claro, agora era a minha chance de redenção. Mas antes que o jogador holandês corra para a bola vamos analisar algumas questões que estavam em jogo naquele momento. Primeiro, o clima daquele tempo era outro. Devemos lembrar que há menos de um ano
havíamos sido
tetracampeões mundiais de futebol. O que foi um marco para o Brasil. Tudo era festa , dali em diante tudo daria certo para os brasileiros. Leia sobre a situação política no Brasil no momento e você vai ver que a vitória da
seleção influenciou altamente a eleição do Fernando Henrique para presidente. Mais do que isso a vitória foi nos penaltis. O
goleiro da
seleção havia sido o meu maior ídolo por anos a fio:
Taffarel! Eu havia acompanhado todas as eliminatórias da Copa do Mundo de 1994 e as críticas ao fiel
goleiro da
seleção. Mas depois da final e do título nos penaltis eu tive o orgulho de ler na capa dos jornais do dia seguinte:
Taffarel, o herói da final! Para alguém que no país do futebol só tinha talento para ser
goleiro aquele era um campeonato especial, ainda mais quando se tem apenas 9 anos de idade, é como se Deus estivesse olhando para você e dissesse: “É isso aí cara!”.

E lá
estávamos nós assistindo a partida do
Grêmio em 28 de Novembro de 1995.
Kluivert partiu para a cobrança e
Danrlei estava lá defendendo no mesmo estilo comprovadamente ineficaz que eu utilizava. Mas lá estava o destino novamente pronto para construir uma sequência, é como se Deus estivesse dizendo: “É isso aí cara - 2, A Missão”! Evidentemente, em alguns segundos eu descobriria que Deus estava dizendo mais algo como “Nada disso cara – O Baú da Morte”. No momento em que o
Grêmio perdeu aquela partida e perdeu o campeonato mundial eu perdi o meu ânimo de torcedor e perdi a fé em Deus e deixei de acreditar em sequências felizes. Dali em diante eu não me permitiria acreditar que um momento feliz e marcante seria sucedido por um outro de igual importância e qualidade.
Os anos passaram e eu tive que
reacomodar o fanatismo e esperanças em algum outro entretenimento e a magia do cinema acabou me cativando e eventualmente restaurando a minha
fê nas sequências. Porém eu não estava preparado para mais uma desilusão gigantesca: as
trilogias!
Não houve decepção maior na minha vida do que os capítulos finais de
trilogias (interessante notar que esse
fenômeno ocorre apenas em
trilogias lançadas nos anos 2000). O capitulo final de uma trilogia é muito mais emocionante do que uma final de futebol. Uma final de futebol não tem toda a preparação que o capítulo final de uma trilogia têm. Toda essa antecipação começa meses antes, quando começam a sair as primeiras notícias sobre a produção do filme. N
esses casos as decepções podem começar já nessa época. Você pode descobrir que o elenco do filme não é mais o mesmo (Rachel
Weis foi
substituída por Maria
Bello em “A Múmia – A Tumba do Imperador Dragão”).

Ou então que o excelente compositor dos outros dois filmes foi
substituido por um péssimo (Sai
Danny Elfman e entra o medíocre Christopher
Young em "Homem-Aranha 3") ou ainda que o
diretor foi alterado (“Parque dos Dinossauros 3” perdeu
Spielberg e “ganhou”
Joe Johnston). Como eu disse a emoção de um filme é bem maior e também é a decepção. O intervalo médio de uma trilogia é de 6 anos, agora imagine você isso comparado aos 90 minutos de uma partida de futebol. Sem contar que temos trilhas sonoras,
trailers, revistas, entrevistas todos aumentando ainda mais a sua expectativa. E quando finalmente a bola vai rolar, quer dizer, o filme vai começar nos deparamos com um Ciclope morrendo nos primeiros 15 minutos de filme (X-
Men – O confronto final), ou um John Connor que não tem nada a ver com o original ("Exterminador do Futuro 3 - A Rebelião das Máquinas"). O pior de tudo é quando o filme tem uma parte dois excelente e que cria enormes expectativas no capítulo final e aí tudo desaba. Piratas do
Caribe - No Fim do Mundo é um exemplo claro: na segundo parte Jack
Sparrow é morto por um
Kraken e no terceiro filme o
Kraken simplesmente aparece morto na praia. Quer dizer o bicho matou o protagonista da trilogia e nós nem ao menos vemos como ele morreu! E o que dizer de Homem-Aranha 3, todos nós vemos o "
Emo-Aranha". O filme é
simplesmente MUITO ruim! O Homem-Aranha estava indo muito bem com um vilão por filme, todos nós sabemos o que ocorreu com a franquia do
Batman (pré
Cristopher Nolan) quando começaram a colocar dois vilões em cada filme (Duas Caras e Charada?! Hera Venenosa e
Mr.
Freeze?!!!) mas lá vem o Aranha com TRÊS vilões no mesmo filme! E eu achava que torcer por resultados
espetaculares no futebol era algo difícil! Imagine quando alguém
destrói uma série que você adorava. Vai dizer que você imaginava que debaixo da armadura do
Darth Vader estava aquele menino chorão que vimos em "
Star Wars - A vingança dos
Sith"?

É nos últimos anos as minhas expectativas em relação à que uma sequência de eventos seja algo
satisfatório foi por água baixo. Ou no futebol ou no cinema o caminho tem sempre sido decepcionante, mas sempre há uma
exceção. Sempre há aquele evento que te faz acreditar que ainda existe esperança e que tudo vai dar certo. Se a sequência de felicidade que eu esperava como torcedor não veio na final do mundial
interclubes com o
Ajax e nem na final da copa de 1998, ela veio pelas mãos do maior técnico de todos os tempos em 2002.
Luis Felipe Scolari nos tornou
pentacampeões e finalmente criou um elo com a esperança da Copa de 94. O mesmo foi realizado pelo capítulo final da trilogia do Senhor dos Anéis. O Retorno do Rei, isso sim é que é como encerrar uma trilogia!!!


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