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quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Anti-Protagonista

Eu sempre tive uma forte admiração por todos aqueles personagens que não eram os protagonistas de seus respectivos veículos, mas de alguma forma acabavam roubando a cena e não seguindo a trilha pré-determinada dos eventos. Há algo de fascinante naquele personagem que é designado a fazer parte de algo e transforma a forma como você percebe determinado seriado, filme, livro ou qualquer outra plataforma de comunicação. Evidentemente eu não sou o único com essa admiração e acho até que não somos poucos por aí. Ainda que eles não se resumam a esse estereótipo, uma grande parte destes personagens são anti-heróis, mas a totalidade deles atuou para mim como um caminho para fugir do comum e satisfazer a minha necessidade de diferencial.
Vários personagens apresentaram esse tipo de personalidade nos mais variados tipos de mídia que eu acompanhei. Em Cavaleiros do Zodíaco, nós tínhamos a figura (hipnotizante para mim) de Ikki de Fênix. Ele só aparecia de vez em quando nos episódios (quase sempre para salvar o irmão Shun) e mesmo assim cada aparição trazia algo novo e desafiador. Eu lembro que o background do personagem citava um treinamento na "Ilha da Morte" (na qual ele foi parar tomando o lugar do seu irmão) e o amor do personagem havia sido a filha do seu treinador carrasco a qual era morta pelo próprio pai com um golpe que visava Ikki. Agora eu pergunto alguém lembra da história do Seya?

Em Lost, o protagonista é Jack, o doutor com suas crises de responsabilidade e comprometimento, enquanto para mim o personagem mais interessante é Sawyer, o trapaceiro que novamente tem um background muito mais interessante. Nada como um filho vingativo que assume a identidade do responsável pela morte dos seus pais e acaba se tornando justamente aquilo que ele procura.

Uma referência óbvia é Han Solo, um coadjuvante fadado a permanecer na sombra do protagonista Jedi, Luke Skywalker, o piloto coreliano se mostrou um personagem muito mais interessante e marcante do que o protagonista da primeira trilogia de Guerra nas Estrelas.


Eventualmente, esse tipo de admiração me levou a apreciar outros artistas que eram por si sós astros em seus respectivos meios e protagonistas de seus campos de atuação, mas não exatamente escolhas óbvias para alguém com o meu perfil. Johnny Cash e Hans Zimmer servem como perfeito exemplo no âmbito musical. O primeiro um cantor cuja carreira de mais de 50 anos é um marco americano, mas nenhuma de suas músicas jamais chegaria a uma rádio brasileira. Já o alemão Hans Zimmer não é tão obscuro, qualquer pessoa com algum interesse mediano por trilhas sonoras o conheceria. Porém não poderíamos classificá-lo como uma escolha óbvia pela sua música em si e não apenas pelo fenómeno de marketing que acompanha um filme.
Todas essas figuras agem como um anti-protagonista, eles não são o exato contrário do protagonista, mas eles preenchem as lacunas aonde os personagens principais não podem ir.
Mas o ponto interessante é até onde esses personagens me inspiraram e influenciaram a minha vida até esse ponto. Refletindo brevemente a respeito, imagino que a porção tenha sido muito maior do que o recomendado, sendo possível até mesmo relacionar a minha obsessão com decadência ao inicio da admiração por esse tipo de personagem. Talvez possa parecer um pouco exagerada a noção de que esse tipo de admiração específica por um determinado estereótipo viesse a orientar o rumo da minha vida, mas a minha criação foi ausente o suficiente para me proporcionar isso. Não que isso seja uma lamentação em relação aos meus pais, alguém tão narcisista quanto eu só pode achar positiva uma característica que me tornou o que eu sou. O fato é que eu nasci depois da crise de meia-idade dos meus pais e isso me deu uma maior liberdade. Liberdade essa que eu acabei direcionando na parte motivacional e me inspirando a seguir esses exemplos, digamos assim, mais interessantes. Assim acabou se tornando inevitável que como o caminho trilhado por essas diferentes personalidades fictícias eu procurei por preencher as lacunas da minha própria história com meus próprios atos. Em outras palavras eu não deixaria outra pessoa ficar com as vagas interessantes que ficariam entre as minhas ações. Para todos os atos impensados que eu cometi, sempre houve essa presença espectral de um Vinicio que fez todas as outras escolhas. Houve um Vinicio que realmente se dedicou ao estudo e ao desenvolvimento acadêmico enquanto eu mergulhei de cabeça no rpg. Isso sempre foi ponderado por mim (retroativamente) nas mais diversas áreas da minha vida e quanto mais penso nisso mais exemplos me saltam a mente. Eu penso no Vinicio que não foi a festa no dia antes do Provão do Enem e não dormiu na prova. Penso no Vinicio que terminou o cursinho pré-vestibular e entrou em uma faculdade conceituada da UFRGS, penso no Vinicio casou com a Jéssica, penso no Vinicio que não foi expulso de casa, penso no Vinicio que se reconciliou com o seus pais. Todos esses fariam o papel de protagonista no meu destino, cumprindo o papel esperado por eles e tendo algum dilema moral a respeito disso. Mas o fato é que não me restava outra opção a não ser seguir as minhas fortes influências baseadas nos personagens com quem eu tanto queria me identificar. Nenhum deles jamais faria essas escolhas responsáveis, o que me restava eram caminhos alternativos à essas rotas óbvias. Fugas para o Uruguai, festas inoportunas, irresponsabilidades mal diluídas, mágoas carregadas além da necessidade, todas elas cumpriram o seu papel em me afastar do caminho comum e me transformar em alguém que tivesse a qualidade mais importante do mundo para mim: ser alguém ao qual eu posso admirar através do meu gosto deturpado. Pensem o que quiserem, mas a verdade é que no fim do dia, sozinho no meu quarto carregando a sombra desse exército de Vinicios que me acompanha eu ainda posso parar e pensar: "Sabe de uma coisa? Eu ainda sou o cara mais legal dessa sala!"

Um comentário:

  1. Cara, eu já penso totalmente ao contrário, eu acho que tu é o protagonista da tua história, e tu seria o anti-protagonista, se tu tivesse feito tudo certo.
    O resto é melhor dizer ao vivo..
    uhehueu

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