Esse é o meu texto favorito e um dos dois eu tenho mais orgulho de ter escrito. Começou com um encontro real com uma atendente do Zaffari em 14/09/2005. Uma das razões por ele me deixar tão orgulhoso foi ter postado ele na comunidade "Glamour Decadente" no orkut e recebido diversos elogios um deles de uma autora paulista que me incentivou a mandar material para a sua editora (algo que eu acabei nunca fazendo). Para aqueles que não perceberem, o Arco do Triunfo gaúcho que eu menciono no texto é o Marco do Expedicionário.
00:30... Eu deixo um dos motéis mais baratos que eu já estive na vida, no meio do caminho até a porta de saída cruzo com um homem idoso que me olha sem dizer uma palavra. Minha acompanhante se despede de mim com um sorriso e um beijo no rosto. Um beijo no rosto. Depois de coisas inomináveis. Um beijo no rosto. Ela vai para o norte e eu para o sul. Ela sobe e eu desço. Desço ao limite do que minha alma permite. Centro de Porto Alegre, Lima e Silva. A chuva cai com a intenção de lavar meus pecados. Eu não deixo. Eu preciso deles. Eles me fazem resistir. As ruas, vazias. As únicas pessoas que andam pelas ruas não usam guarda-chuvas. Pessoas sem guarda-chuva no meio da madrugada são justamente o tipo de pessoa que se deve conheceer. Mas ninguém têm nome na madrugada. Nesse horário a cidade não é só mais um amontoado de pessoas correndo e comprando. Nessa hora única, a cidade têm alma. Um ônibus passa por uma poça de água e me encharca da fria e suja água da chuva. Estou encharcado e com frio. Uma BMW cruza a Lima e Silva e me observa. Eu me sinto decadente. Eu me sinto bem. Eu me sinto acima de tudo, livre. Eu sorrio, imaginando que aquele idiota possa achar que está melhor do que eu. Eu sorrio mais quando penso que ele vai viver a vida toda sem saborear esse tipo de sensação. Deixo a Lima e Silva. Sigo meu caminho. Ele me leva até o Arco do Triunfo, na frente da Redenção. Eu penso nas palavras e sorrio novamente. Redenção, 01:00. Eu atravesso o Triunfo, e sinto seu peso em minhas costas. A decadência é uma companheira mais amena. Redenção, existe um nome mais apropriado para a maior concentração de prostitutas, traficantes, viciados e estupradores do que esse? Se ainda existe um lado bom nessas pessoas, eu sou feito desse lado. Vultos movem-se em meio as árvores, cobertos pela acolhedora escuridão. Mais de uma vez eu ouvi falarem que passar pela Redenção a uma hora dessas é suicídio. Eu não me importo. Não tem nada a ver com coragem. Eu sou medroso. No meu âmago eu sei disso. Eu espero ser confrontado pela justiça poética que teima em me deixar passar impune. Dois vultos saem das sombras e se dirigem em minha direção.Eu olho para eles esperando apenas minha punição. Eles passam por mim e me comprimentam com a cabeça. Eu percebo que eles me tomaram por um deles. Quando você tenta estar completo e percebe que já esta mais coberto de lama do que limpo, não é mais fácil simplesmente sujar o resto? Não... Seria fácil demais. Eu retomo meu caminho, não posso desviar dele. Eu me viro e olho para a Redenção. Ela ficou para trás. Eu penso que em meio a esse grande inferno de podridão e decadência existe um caminho iluminado que eu decidi não trilhar. Os postes que iluminam a Redenção mostram a todos esse caminho. Eu dou mais um passo a frente. Algo me impede de seguir. Eu me viro novamente. Os postes se apagam. Eu me sinto em casa.
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