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terça-feira, 2 de junho de 2009

Funeral.

Até agora escrevi um texto motivado pela dor de cabeça e recauchutei alguns dos tempos do “Teorias”, mas nada muito novo. Pensei de que forma (re)começar. Pensei qual seria o assunto que me daria o pontapé inicial de volta as minhas inspirações sobre escrever frequentemente. Pensei sobre muitas coisas, mas ao tentar ir na direção contrária acho que acabei encontrando o ponto certo. Que forma melhor do que começar pelo fim? Vamos começar pelo meu funeral.
Bom, primeiro vamos ter que estabelecer como eu morri. Eu adoraria dizer que morri em alguma situação heróica e por algum propósito maior, algo no estilo Spock em "A ira de Khan" ou Bruce Willis em “Armageddon” (não se pode vencer essa morte!). Mas acho que no fim vou acabar me engasgando com uma manga ou algo assim. Com certeza as minhas últimas palavras seriam “Vinha um português caminhando pela rua...”.
De qualquer maneira a primeira consequência direta à isso seria o tipo de resposta das pessoas. Não acredito em um tipo de comoção generalizada na minha familia, até porque tenho conseguido êxito na duvidosa tarefa de me manter afastado dos meus pais. Acho que eu poderia esperar choque por parte da familia, um pouco de perplexidade por parte dos colegas de trabalhos, algumas lágrimas de pessoas não tão próximas, alguma bem-vinda indiferença de pessoas mais próximas. Eu tenho esse estranha sensação de alívio do resto das pessoas com a minha morte, ao mesmo tempo uma espécie de sentimento de perda atrasado, como se a minha ausência fosse mais notada do que a minha presença , para o bem ou para o mal. Depois disso vamos ao derradeiro teste de popularidade: o enterro.
Por algum tempo eu fui um fiel defensor da cremação, sempre me pareceu mais digna e de uma certa forma mais impressionante, já que ela lhe dá a possibilidade de tornar o seu local de descanso final algo muito mais abrangente e charmoso. Por exemplo, se largarmos as cinzas no oceano, ao invés de termos uma visita melancólica no dia de finados, teríamos uma interessante e contemplativa visita a praia. Eu me lembro em mais de uma ocasião ter pedido que jogassem as minhas cinzas ao longo da Farrapos. Não tivesse um envolvimento tão grande assim com aquela rua específica. Não me lembro de ter transado com mais de duas prostitutas daquela rua e nunca fui de visitar aquelas boates. O que me fascinava era a “alma” da rua em si. Prostitutas, traficantes, videolocadoras, trabalhadores, frentistas, igrejas, todos ocupando a mesma rua de Porto Alegre. Você pode atravessas a Farrapos desde o centro até o Terminal Navegantes e encontrar mil pessoas (todas elas interessantes) e mesmo assim se sentir sozinho. Pensando na logística da coisa as minhas cinzas mal dariam para uma quadra, mas eu não pensaria duas vezes. A alternativa à cremação seriam os caixões, o que me pareceu sempre um pouco “retrô”, isso é claro, até que eu encontrasse essas formidáveis versões. Que tal partir para a eternidade preso em Carbonite?






Ou então ter um digno descanso final em Genesis com o caixão oficial da Frota Estelar como Spock em "À Procura por Spock"?




Tenho que admitir que essas versões me conquistaram e uma vez escolhido o caixão vamos ao velório. Na minha maneira de ver as coisas, eu acredito que seja indispensável uma boa seleção músical e uma mensagem pré-escrita do defunto (essa mesma serviria). Em relação a seleção musical eu sempre acreditei que 5 músicas dariam conta (15 minutos de velório estão bom para mim). Acreditem ou não eu achei uma lista na internet cujo título era “The Best and Worst Funeral Songs”, quem disse que a Internet não tem nada que preste? A lista não ajudou muito mas achei os piores sons bem mais interessante do que os outros (isso diz alguma coisa sobre mim?)
Vamos a minha lista (acabei percebendo que nem todos são músicas mas quem vai debater com o morto?):
1-”The Blower's daughter” Damien Rice
2-”The Wrestler” Bruce Springsteen
3-”You'll Never Walk Alone” - Johnny Cash
4-O monólogo de William Shatner da abertura de Star Trek “Audaciosamente indo aonde nenhum
homem jamais esteve”.
5-O encerramento do Looney Toons “Por Hoje é só pessoal”!

Quanto a mensagem, ao contrário do óbvio (e eu sempre fui um grande fã de tudo que é contrário ao óbvio) eu não escolheria um dos Groovers ou a Guiomar para fazer a leitura. É um momento importante, se não um dos mais importantes da vida (ou morte) de uma pessoa e eu imagino que todos prestariam atenção. Sendo assim eu escolheria o “Marcos Gordinho”, que foi meu vizinho e meu maior inimigo na maior parte da infância. Ele tem a lingua presa e acho que ele ler essas palavras seria uma boa maneira de me despedir.
Nos derradeiros momentos enquanto o caixão é baixado eu gostaria que o Anderson contasse toda a piada do Português que vem andando pela rua, que o Bruno falasse o “Atimunae ÔÔÔ” e que o Derek ficasse quieto.
Nada mal, na minha opinião.

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