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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Novo grupo


Bom, ao longo do tempo é comum que as pessoas se apeguem a determinadas coisas que não teriam tanta importância se analisadas por outro aspecto. Somos todos humanos e é comum nos apegarmos a carros, objetos, fotos, e outras coisas que poderiam ser substituídas sem grandes problemas se não fosse esse o caso. É sempre uma decisão difícil nos livrarmos de algo que tem um valor sentimental para nós e esse ano me livrar de um grupo muito especial de personagens foi algo realmente difícil. Posso dizer sem medo de errar que essa foi a decisão mais dolorosa que tomei esse ano. Como muitos sabem, temos um grupo de RPG e jogamos há mais ou menos 10 anos. Alguns integrantes saíram outros entraram, mas o jogo continuou. Nos últimos três anos e nove meses temos jogado (quando dá) com o mesmo grupo, o agora clássico Círculo de Fogo. Eu me afeiçoei a esse grupo de uma forma muito grande. Tomar a decisão de, não simplesmente pôr um fim ao grupo, mas apagar completamente a timeline deles foi algo que decidimos em grupo e que teve uma grande repercussão na minha resolução de jogar RPG. Pensei em parar de jogar... A idéia de jogar fora toda uma história de vida de personagens pelos quais eu adquiri um carinho profundo se tornou um pesadelo recorrente. Eu, infelizmente, estava abandonando um personagem que ainda não havia concluído sua história, eu havia feito um juramento a esse personagem de que iria lutar com todas as minhas forças para que ele tivesse ao menos a chance de marcar seu nome na história do cenário de campanha. Eu lembrarei com saudades e com certa melancolia dos nossos momentos heróicos e engraçados. Eu interpretava um caçador de dragões e alimentava o sonho de um dia enfrentar Tiamat em combate. Eu não sonhava em vencer, mas queria ao menos ser reconhecido como um adversário capaz. Eu não poderei concluir essa história com o meu personagem já que os Deuses de Forgotten Realms decidiram que o meu HD deveria apresentar um problema e eu perderia as atualizações das fichas e da timeline dos nossos finados heróis. A dolorosa saída é recomeçar com um grupo novo. Mas eu sempre me lembrarei da sagacidade do Kendrik, da humildade da Idriel, do pragmatismo do Faulkner, do paternalismo do Glóin, da ferocidade da Galaudriana e da criatividade do Flea. Posso até mesmo dizer que sentirei a falta da já distante diligência do Cael.
Mas pensando quanto aos lados positivos de criar um novo grupo é sempre uma boa oportunidade para desenvolvermos história envolventes, personagens carismáticos e o momento de fazermos novamente aquele juramento silencioso de que nos comprometeremos com esse novo personagem e lutaremos por seu direito de escrever seu direito na história dos Reinos Esquecidos. É uma ótima oportunida para escolhermos um novo nome para o grupo, um nome que nos anos que vierem será temido por nossos inimigos antes mesmo que eles nos encontrem pessoalmente. É uma chance para escolhermos uma música para o novo grupo e uma trilha sonora que represente cada personagem. Todas essas possibilidades se apresentam juntamente com o nosso novo grupo. Em celebração a essa nova etapa e também aos companheiros que ficaram pelo caminho, resolvi fazer um Top 10 com os meus personagens favoritos desde que iniciamos no RPG a quase uma década atrás. Como eu estou dando a minha opinião sobre eles inseri uma frase que define o personagem para mim.


1- Kendrik Vangelis - Mago
Eu tenho que admitir que Kendrik é o legitimo anti-protagonista. Apesar de as vezes eu achar que o Derek derrapava na interpretação e levava ele demais para o lado de "quero ser mais forte que os outros" ele ainda sim é o personagem que eu mais gostei até hoje. Ele evocava um estilo meio Sawyer, Ikki de Fênix e tantos outros anti-heróis que eu sempre admirei, tudo isso de uma forma original. Mesmo não gostando de conjuradores eu acho que tivemos várias oportunidades de desenvolver melhor o passado do personagem e isso se deve bastante ao fato de o Derek ser apaixonado pelo desenvolvimento do personagem, ainda que isso se dê através do acumulo de poder. Eu sempre gostei do conceito do personagem do qual sempre se espera o pior e ainda que ele tome as decisões maléficas que se esperava dele, no fundo ele as faz por motivos nobres. O que dizer de um personagem que foi punido por Deuses, fez negociações com eles de igual para igual, trocou de corpo, se tornou monge, subiu ao conselho da mais poderosa nação de magos, foi Magistrado, Escolhido de Azuth e Kelemvor e finalmente se tornou uma das últimas esperanças para salvar a Deusa da Magia?

"Se quiser por à prova o caráter de um homem, dá-lher poder." (Abraham Lincoln)

2 - Faulkner - Ranger
Eu nunca fui muito bom em criar personagens para mim, modéstia à parte, eu acredito que o meu talento esteja em mestrar o jogo. Mas para que eu me importe com a campanha eu preciso ter algo meu em risco nela. Como diria o Dr. Manhattan: "Porque eu me preocuparia com um mundo no qual eu não tenho nada em risco?" Porém, Faulkner começou como um ranger comum e se tornou algo maior para mim, alguém que orientou a campanha sobre o Ano dos Dragões Ladinos. A história dele foi se tornando mais complexa com o passar do tempo e acho que a complexidade do relacionamento dele com os outros personagens acabou definindo ele de uma forma bem interessante. Eu fiquei muito satisfeito ao conseguir transmitir ao grupo que ele estava ficando obcecado com a destruição dos dragões e não hesitaria em colocar a vida de todos em risco para conseguir seu objetivo. Para mim Faulkner foi marcado por seus relacionamentos intrincados com Idriel, Galaudriana e Sylune. Como eu citei antes, foi sem dúvida o meu personagem mais pragmático.

"Grandes objetivos são alcançados, não através da força, mas da perseverança." (Samuel Johnson)

3 - Threvor Justrider - Paladino
Bom, aqui um membro da equipe clássica dos Groovers. Anão, paladino, alcoólatra. Não consigo pensar em uma combinação mais perigosa que tenha ido mais longe. Na primeira encarnação do personagem em Tormenta, o anão não apenas descumpria seguidamente seus votos de paladino como também em determinada ocasião desafiou o próprio deus. Eu ainda lembro quando Khalmyr, o deus da justiça de Tormenta, apareceu na frente do personagem e disse-lhe que ele havia envergonhado o seu clã a tal ponto que estava proibido de usar o sobrenome Justrider até que se redimisse de seus erros. Qual a reação imediata do Paladino? "Justirider! Justrider! Justrider!"
Quando o personagem ganhou uma nova roupagem ao ser transportado para Forgotten Realms, ele ganhou diversas camadas e a meu ver se tornou um personagem bastante complexo. Lidava com a sombra de ter tido o seu crescimento no clero impedido por seu problema de alcoolismo e lutava para manter sua familia enquanto se encarregava de manter a segurança de Lua Argêntea através de um posto avançado: a Fortaleza Justrider. Ele manteve uma relação paternal com a filha de Leon, que veio a se tornar o avatar de Bane e foi indiretamente responsável pela desgraça que se abateu sobre o Deus da Tirania. Foi capaz de invadir um castelo no Abismo e enfrentou sozinho um batalhão de Succubus, tudo ao lado do mais icônico parceiro da campanha até hoje, o Dragão de Prata Arkangraknar.

"O maior mal que pode acontecer a um homem é que ele pense mal sobre si mesmo." (Goethe)

4 - Idriel Marak Vangelis - Feiticeira
Bom a Idriel foi uma surpresa ao longo da campanha. Primeiro deixem-me explicar que eu sempre achei que o maior defeito da Guiomar como jogadora é a indecisão a respeito de o que fazer e sobre as responsabilidades que seu presonagem precisa encarar. Porém ao longo do tempo um personagem bem construído como a Idriel começou a apresentar essa caracteristica como uma qualidade. As relações da personagem com outros personagens da trama sofreu constantes reviravoltas: a descoberta da adoção, a presença paterna próxima porém desconhecida, o verdadeiro destino de sua mãe, a relação com Kendrik, o fato de ter se tornado Magistrada. Todo esse caos ao redor da personagem fez com que essa indefinição da personagem soasse como algo contínuo em meio a uma história turbulenta. Ainda que as vezes ela pudesse ser vista como insegura, na maior parte do tempo todos sabiam que ela tinha uma personalidade definida e valores inabaláveis. O casamento com Kendrik e a gravidez dos gêmeos vieram apenas somar a uma trajetória que já era interessante.

"O caráter de um homem é formado pelas pessoas que ele escolheu para conviver." (Sigmund Freud)

5 - Klunk Behead - Bárbaro
Klunk é a prova de que o cliché sempre terá um lugar privilegiado no mundo do RPG. Nem sempre temos a sutileza de interpretar algo inovador e original e as vezes a definição do personagem fica mais fácil com algo mais cliché. O bárbaro meio-orc extremamente forte, e burro na mesma proporção, acabou se tornando nosso cliché mais engraçado. Ele se tornou um ícone da burrice e da força (sendo ultrapassado nesse último quesito apenas pela Galaudriana) e se tornou referência para atos estúpidos mesmo em outras campanhas. Engraçado que, pensando agora, eu acho que o Klunk era o personagem que mais se encaixava no cenário de Tormenta, afinal ele levava a vida de um jeito mais leve e nunca se adequou completamente ao tom mais sombrio de Faêrun. De qualquer forma enquanto houver uma inteligência abaixo de 8, uma força acima de 18 e a raça dos meio-orcs Klunk será lembrado.
"É preciso ter dúvidas. Só os estúpidos têm uma confiança absoluta em si mesmos." (Orson Welles)

6 - Leon Lethalaim - Ladino
Uma vez o Derek me disse que havia se inspirado em mim para criar o Leon. Rápido com as mulheres e sempre se metendo em confusões. Eu tenho que confessar que fiquei extremamente envaidecido. Mas mesmo ignorando esse fato (que por si só já é mais do que suficiente para que esse seja um dos meus personagens favoritos) esse é um personagem que cativou a todos durante a campanha. Só para constar o momento mais marcante de todas as vezes que jogamos a campanha de Tormenta foi quando o Leon matou toda a guarda de Malpetrim para salvar a sua esposa. Clássico momento Groover. Na campanha de Forgotten esse foi para mim o personagem que mais deixou claro que havia deixado para trás algo que não poderia mais recuperar e todos nós acabamos nos vendo a volta (em um momento da campanha ou outro) com algum dos seus 6 filhos. Eu sempre vou lembrar do Leon como o personagem que cresceu enquanto jogavamos tanto na personalidade quanto em importância na campanha.

"A vida é um sonho para o sábio, um jogo para o tolo, uma comédia para o rico e uma tragédia para o pobre" (Sholom Aleichem)

7 - Galaudriana -Bárbara
A Galaudriana não é apenas uma personagem da qual meu personagem tinha medo é uma personagem que eu como mestre tinha medo. A Anelise é a mãe dessa jóia de personagem que eu garanto não será esquecida tão cedo. Logo no sorteio das habilidades a Anelise tirou um 18 e colocou em força e depois virou um canhão solto no grupo. Se alguém já tentou fazer um legitímo "badass" no grupo ninguém chegou perto da Galaudriana. Ela não gostava dos companheiros, não trabalhava bem em grupo e era praticamente indestrutível... e isso antes de ela virar meio golem! Depois tudo ficou ainda pior: ela detestava os companheiros, agia contra nossas combinações e era indestrutível. Aos poucos ela foi se afeiçoando ao grupo e gosto de imaginar que ela percebeu que gostando ou não aquela eram as únicas pessoas com as quais ela se importava. Jamais saberemos o que aconteceria se a Anelise tivesse continuado jogando, e a "Galau" acabou acabou virando uma Personagem do Mestre, mas eu posso dizer sem ter medo de errar que as mudanças que a personagem sofreu foram todas dentro do que havia sido estabelecido pois a Anelise estabaleceu uma personalidade que não poderia ser esquecida.

"Amargura é como câncer. Ele come o hospedeiro. Mas a raiva é como o fogo. Ela queima tudo limpo." (Maya Angelou)

8 - Thranduil Eveningfall - Ranger
Aqui está um personagem que eu não estou certo se o meu próprio grupo de rpg vai lembrar, o elfo ranger Thranduil, personagem do Derek. Foi uma campanha curta e o grupo todo morreu em uma missão em Maztica. Mas houve um pequeno ato que foi o que me mostrou o quanto o mestre de um jogo é apenas mais um jogador e que dadas as circunstâncias os jogadores decidem mais do que o mestre. Eu lembro que na história (que era uma aventura pronta) o grupo tinha que procurar um assassino e em uma das cenas eles podiam fazer algumas perguntas a um mendigo em um beco. Na história original ele apenas seria capaz de dizer para que direção o assassino havia ido, porém Thranduil mostrou um tremendo interesse no bem estar do sem teto que na verdade era uma meio-elfa que estava sob o efeito de drogas. No desenrolar da história a meio-elfa nos acompanhou durante um bom tempo até que o elfo conseguiu que ela fosse escolhida como aprendiz pelos magos vermelhos de Thay. Eu me lembro que na época o Derek estava estudando no Mauá e me falou que motivado por esse jogo ele havia comprado um monte de números de uma rifa para ajudar uma colega (que precisava fazer uma cirurgia nos olhos se eu não me engano), sempre lembro com orgulho dessa história e é bom ter um resultado positivo do rpg para lembrar.

"Um verdadeiro amigo nunca fica no seu caminho, a não ser que você esteja caindo." (Arnold H. Glasow)

9 - Shrindalla - Adepta
É engraçado que eu coloque uma NPC entre meus personagens favoritos mas eu acabei me apegango a Shrindalla principalmente por notar que ela representou uma estabilidade que ajudou muito a criar uma continuidade que caracterizou o Círculo de Fogo. Shrindalla e seus inseparáveis gatos davam uma impressão de volta para casa sempre que iamos para a Prôa do Navio e através dela esse sentimento se estendeu a Lara, Alfred e Dan.

"Seja cortês com todos, mas íntimo de poucos, e deixe estes poucos serem bem testados antes de você dar-lhes a sua confiança." (George Washington)

10 - Glóin Stoneshield - Clérigo
Eu sempre gostei de anões no grupo e sempre achei que o Parmalat era o mais indicado a interpretá-los. Quando o Anderson decidiu jogar com um anão eu não levei muito fé. Porém para a minha surpresa o Anderson conseguiu trazer a tona um lado mais sério dos anões, o aspecto mais leal e comprometido deles. Sua determinação para com o seu clã só era vencida pela sua convicção em seus preceitos. Eu também acho que o Glóin foi não apenas o anão melhor interpretado foi também o clérigo melhor interpretado e nesse ponto acho que o Anderson conseguiu um equilibrio perfeito entre a seriedade dos anões e a compaixão dos clérigos benignos.

"Um homem cheio de coragem também é cheio de fé." (Marcus Tullius Cicero)

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