Faz tempo que eu queria escrever novamente um texto sobre religião e não consigo porque não me sobra tempo. Como bom ateísta eu tendo a focar nos defeitos e falhas das religiões e por isso mesmo é que demoro a escrever. Seria muito fácil e rápido simplesmente enumerar defeitos, desonestidades, leviandades e outras incongruências, mas também seria desleal e ineficaz da minha parte. Metralhar mensagens desconexas é algo utilizado pelos defensores da religião e isso é algo que eu não posso me permitir. No entanto, eu sempre acho importante agradecer aqueles que se dispõe a argumentar de forma clara e lógica a respeito de religião, nesse caso os meus dois últimos companheiros de discussão foram o Derek e o João Colombo. Eu e o Derek tivemos uma extensa argumentação sobre religião em outro post e foi algo muito esclarecedor e interessante. Já o João deu uma opinião muito interessante no meu post sobre frases ateístas. Eu tenho que admitir que eu achei o argumento do João, extremamente simples e por isso mesmo muito inteligente. Até considerei que dada a natureza pouco específica do argumento seria impossível respondê-lo, porém pensei mais um pouco e decidi que vale a pena tentar. O post que eu mencionei mostra diversas frases de ateístas e agnósticos famosos e demonstra sua insatisfação com a religião. O João observou muito bem que:
"Há problemas entre todas as frases... elas não implicam na descrença da existência de Deus ou algo que substitua uma definição de Deus, todos estes pensadores, mostram-se desiludidos sobre como religião (o ato de se religar) vem sendo praticada ou ainda, mais especificamente, desiludidos com a igreja católica, associando isso diretamente ao Cristianismo, o que é bem diferente.
Não se pode tomar o local pelo global, nem o particular pelo todo. Antes de afirmar categoricamente ser ateu, é necessário entender um conceito mais amplos de "Deus", ao invés de renegar sua existência por não aceitar os feitos da humanidade em relação a este conceito, que foi deturpado ao longo de milênios.
Enfim, antes de questionar quem é Deus, como é Deus ou porque Deus faz isso e aquilo, é preciso entender "que é Deus?" e acredito que nossa vã filosofia não consegue responder em absoluto, mas nos dar algumas pistas."
Eu acho a primeira parte da resposta do João fantástica e absolutamente correta. Eu sou totalmente sincero ao afirmar que esse foi a argumento que mais me fez considerar estar errado em renegar a religião e me considerar um ateu convicto. Afinal, se pararmos para pensar de fato é exatamente essa a argumentação que todas as frases desses pensadores (corretas ou não) representam: uma profunda desilusão na maneira como a religião é tratada. E essa desilusão vem justamente da forma como esse conceito " foi deturpado ao longo de milênios" como muito bem esclarece o João. Muito bem, mas a pergunta que acaba se iluminando na minha cabeça é, o que é Deus se não as atitudes tomadas e causadas em seu nome nos últimos milênios? O que afeta a sua vida diariamente: Deus ou as atitudes tomadas diariamente em nome dele? Particularmente eu não tenho nada contra Deus, eu simplesmente não acredito que ele exista, mas o conceito em si é ótimo. O que me decepciona são os resultados. Basicamente nós temos algo, uma conexão tênue se preferir, com algo que até poderia nos dar resultados maravilhosos, mas que na prática tem nos dado atraso, preconceito e estagnação. Por quanto tempo se continua seguindo uma promessa (improvável na mais condescendente das avaliações) enquanto ela dá resultados negativos? Agora, eu acredito que entraria em ação o argumento do Derek, sobre religião como ideal evolutivo, e eu tenho que admitir que faz sentido. Tentando manter o meu argumento puro eu refutei esse tipo de percepção, mas buscando uma avaliação maior da situação eu posso verificar que é perfeitamente aceitável. Há de fato religiões "benignas" por assim dizer. Não há nada de errado em alguém venerar seu Deus e manter suas tradições e há obviamente uma importância cultural nisso. É bastante provável que seja benéfico ao ser humano ter uma consciência espiritual desenvolvida e talvez a religião seja o caminho certo para isso. Porém há dois fatores que me incomodam profundamente: os excessos e a importância dada ao aspecto religioso em nossas vidas. Eu não gosto muito de usar esse argumento porque ele é o mais batido quando alguém se pronuncia contra a religião, mas infelizmente é uma verdade histórica e irrefutável que a religião causou as maiores guerras, injustiças, horrores e atrocidades que a humanidade já teve o desprazer de observar. E é bom dar o crédito correto a algumas afirmações, quando eu digo que esse fato é "verdade histórica e irrefutável" eu sei que várias pessoas usam o peso dessas palavras (e equivalentes) para apoiar situações menos claras e definidas apenas para provarem estar certas e tentarem convencer as pessoas. Há muita mentira escrita por aí e isso é algo que eu tento evitar aqui. Mas afirmar algo tão contundente sobre o papel da religião na história é algo simplesmente inevitável. Todos que se deram ao infímo trabalho de não se alienar completamente da história mundial sabem do que eu estou falando. Obviamente conflitos políticos também tiveram sua farta cota de horrores na história mas essa fatia não chega nem perto do desserviço prestado pela religião ao mundo. Isso é algo que é tão contundente que eu frequentemente me pergunto onde estaríamos sem religião hoje. Impossível determinar, mas eu tenho essa insistente sensação de que não teríamos tanto sangue nas mãos que se unem para orar.
Um ponto interessante a ser considerado é que por causa da religião colocamos toda a nossa capacidade analítica moral nas mãos de outra pessoa. Literalmente pessoas dão a outros indivíduos o direito de se tornarem suas bússolas morais. Já é ruim considerarmos escrituras arcaicas, livros duvidosos e mensagens suspeitas como guias morais, mas ainda pior é deixarmos isso na interpretação de uma outra pessoa. Normalmente alguém com a mesma nacionalidade que você, talvez a mesma instrução, talvez até mesmo a mesma idade, no entanto de alguma forma essa pessoa está intitulada a fazer uma avaliação dos seus atos e lhe dizer quais deles são acertados e quais deles são incorretos. A situação toda atinge um nível de absurdo absoluto quando percebemos que é comum que esses mesmos auto-apontados guias morais sejam os primeiros a quebrarem as regras impostas não apenas pelas normas da sua religião mas da sociedade como um todo.
No fim eu me vejo obrigado a admitir que não poderia defender o fim de todas as religiões, isso seria extremo e até mesmo absurdo (ainda que não menos absurdo do que muitos dos discursos religiosos que eu me canso de ouvir). Eu concordo que existam religiões positivas e que não causam mal algum (pelo menos não de forma direta) e sou obrigado a me perguntar qual seria a alternativa a esses desastres religiosos que eu observo diariamente? Acredito que duas atitudes devam ser consideradas a fim de se conseguir algum progresso nessa condição tão crítica.
Primeiro é necessário um maior respeito em relação aos ateus. É extremamente frustrante entrar em um conversa que envolva religião e perceber o tom condescedente das pessoas ao você se declarar ateu. É muito comum as pessoas responderem dizendo que já passaram por uma fase assim, insinuando tratar-se de uma coisa temporária e juvenil. As pessoas tem uma dificuldade em entender que ser ateu é um posicionamento (normalmente baseado em uma profunda analíse da religião) e não apenas uma outra religião. Não somos filhos ingratos e revoltados com Deus, simplesmente não acreditamos que exista um Deus. Eu lembro que pouco antes da eleição de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos uma grande rede americana divulgou uma pesquisa que questionava as pessoas se o país estava preparado para eleger um presidente que fosse ateu (baseado na infundada informação de que o presidente americano seria ateu) e o resultado da pesquisa foi de que 85% das pessoas responderam que não. Nada contra a opinião das pessoas, eu mesmo considero que políticos evangélicos são uma ameaça a liberdade e um convite a repressão. Mas o que me fere nesse sentido é que se a mesma pergunta fosse realizada levando-se em consideração um suposto presidente judeu ela seria considerada preconceituosa e até mesmo anti-semita. Há algum tempo atrás eu lembro de ter visto no youtube uma entrevista do Dr. Drauzio Varela contando que ele era ateu e que como ele recebeu um retorno negativo de várias pessoas em relação a isso. Ele afirmava que recebeu e-mails de pessoas que o tinham na mais alta conta e que se mostravam decepcionadas com a sua opção ateísta.
Um ponto interessante a ser considerado é que por causa da religião colocamos toda a nossa capacidade analítica moral nas mãos de outra pessoa. Literalmente pessoas dão a outros indivíduos o direito de se tornarem suas bússolas morais. Já é ruim considerarmos escrituras arcaicas, livros duvidosos e mensagens suspeitas como guias morais, mas ainda pior é deixarmos isso na interpretação de uma outra pessoa. Normalmente alguém com a mesma nacionalidade que você, talvez a mesma instrução, talvez até mesmo a mesma idade, no entanto de alguma forma essa pessoa está intitulada a fazer uma avaliação dos seus atos e lhe dizer quais deles são acertados e quais deles são incorretos. A situação toda atinge um nível de absurdo absoluto quando percebemos que é comum que esses mesmos auto-apontados guias morais sejam os primeiros a quebrarem as regras impostas não apenas pelas normas da sua religião mas da sociedade como um todo.
No fim eu me vejo obrigado a admitir que não poderia defender o fim de todas as religiões, isso seria extremo e até mesmo absurdo (ainda que não menos absurdo do que muitos dos discursos religiosos que eu me canso de ouvir). Eu concordo que existam religiões positivas e que não causam mal algum (pelo menos não de forma direta) e sou obrigado a me perguntar qual seria a alternativa a esses desastres religiosos que eu observo diariamente? Acredito que duas atitudes devam ser consideradas a fim de se conseguir algum progresso nessa condição tão crítica.
Primeiro é necessário um maior respeito em relação aos ateus. É extremamente frustrante entrar em um conversa que envolva religião e perceber o tom condescedente das pessoas ao você se declarar ateu. É muito comum as pessoas responderem dizendo que já passaram por uma fase assim, insinuando tratar-se de uma coisa temporária e juvenil. As pessoas tem uma dificuldade em entender que ser ateu é um posicionamento (normalmente baseado em uma profunda analíse da religião) e não apenas uma outra religião. Não somos filhos ingratos e revoltados com Deus, simplesmente não acreditamos que exista um Deus. Eu lembro que pouco antes da eleição de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos uma grande rede americana divulgou uma pesquisa que questionava as pessoas se o país estava preparado para eleger um presidente que fosse ateu (baseado na infundada informação de que o presidente americano seria ateu) e o resultado da pesquisa foi de que 85% das pessoas responderam que não. Nada contra a opinião das pessoas, eu mesmo considero que políticos evangélicos são uma ameaça a liberdade e um convite a repressão. Mas o que me fere nesse sentido é que se a mesma pergunta fosse realizada levando-se em consideração um suposto presidente judeu ela seria considerada preconceituosa e até mesmo anti-semita. Há algum tempo atrás eu lembro de ter visto no youtube uma entrevista do Dr. Drauzio Varela contando que ele era ateu e que como ele recebeu um retorno negativo de várias pessoas em relação a isso. Ele afirmava que recebeu e-mails de pessoas que o tinham na mais alta conta e que se mostravam decepcionadas com a sua opção ateísta.
A segunda atitude a ser tomada é que deveríamos eliminar o excesso de respeito com que o assunto é tratado. Todos nós nos sentimos à vontade para criticarmos a administração equivocada de um time de futebol, ou nos sentimos na obrigação de apontar as falhas políticas de um partido. Mas pouquissimas pessoas tomam esse tipo de atitude em relação a religião. As religiões conseguem passar incólumes por escândalos como pedofilia, evasão de divisas, desvio de dinheiro e etc. Tudo isso se deve a esse respeito excessivo e esta mais do que na hora de começarmos a questionar com mais ênfase esses excessos e não simplesmente virar o rosto para o outro lado.
Por último para aqueles que argumentam que os ateus são propensos a maldades ou sem a consciência altruísta inerente aos religiosos, eu posso lhes dizer que não há sensação melhor do que deitar a cabeça no travesseiro no fim do dia e saber que você fez o bem simplesmente porque assim decidiu e não porque está pensando em uma recompensa na eternidade.
Puxa! ...nunca havia pensado que alguém que se diz ateu pudesse sofrer preconceito religioso. Eu gostaria de lhe dizer, Vinício, se eu fosse um fanático religioso que "não se preocupe em acreditar em Deus, ele sempre vai acreditar em você", no entanto vou confessar que também não acredito em Deus... não dessa forma mitológica. Deus não é uma questão puramente religiosa, é antes filosófica, mas sobretudo é uma questão científica, quântica.
ResponderExcluirDeus é TUDO. Só me permito dizer isto.
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