Eu levei quase um ano para ler a biografia da jovem paquistanesa alvejada com um tiro na cabeça pelo Talibã por defender a educação de meninas no Paquistão. A minha falta de interesse se deve ao fato de o livro não ter um foco ou um senso de desenvolvimento muito grande.
Malala começa descrevendo sua terra natal, o lindo vale do Swat no Paquistão, apresenta sua família, fala de assuntos e problemas corriqueiros na vida de uma jovem adolescente, como as brigas com os irmãos irmãos e suas amizade e competições com jovens da mesma idade. Isso tudo é muito singelo, porém apresentados com uma humildade e apego cativantes. Eu sabia que eventualmente a história atingiria o ponto no qual Malala seria baleada, mas até chegar a esse ponto o livro acaba não prendendo o leitor.
Os pontos mais interessantes para mim são os momentos nos quais Malala descreve a realidade do Paquistão, tão diferente do Ocidente, bem como as peculiaridades de sua vida como muçulmana.
O livro foi escrito em coautoria com a jornalista britânica Christina Lamb. A eloquência de Malala e a fluidez de suas ideias me fizeram considerar que o envolvimento de Lamb seja mais do que o indicado para que possamos acreditar na veracidade do que lemos, principalmente porque o livro é escrito em primeira pessoa. Mas eu felizmente acompanhei diversas entrevistas de Malala para verificar que ela é de fato uma excelente oradora e que sua capacidade na escrita deve ser igualmente desenvolvida, somado a isso o fato de a mesma se mostrar uma aluna dedicada e uma campeã do direito a educação é possível acreditar que o livro seja honesto e transmita realmente a linguagem de uma adolescente eloquente de uma cultura bastante diferente da nossa.
O que mais me decepcionou no livro são os momentos nos quais Malala defende sua religião com os mesmos argumentos cansados que já vimos antes, porém ainda sim é interessante ver essas idiossincrasias se manifestarem na mente de alguém tão jovem que já está doutrinada a defender a própria religião das perguntas que ela mesmo manifesta e ao mesmo tempo a exime sem nenhuma justificativa.
"Nosso país estava enlouquecendo. Como era possível que agora festejássemos os assassinos?" a menina pergunta. Mas apesar de sua astúcia intelectual precoce nunca parece considerar o papel deturpador e potencialmente perigoso da religião em seu mundo.
Malala tem uma mensagem inspiradora e uma determinação inabalável de que todas as meninas do mundo tenham acesso a educação, porém ela não parece considerar porque ela precisa lutar contra organizações religiosas (como o Talibã) para que isso aconteça.
Infelizmente o Talibã que atirou em uma menina indefesa é um seguidor mais fiel da religião islâmica do que a inocente menina vítima da violência e que tem uma luta tão nobre pela frente.
Ps: Uma observação na versão brasileira, na contra-capa ao lado da recomendação do livro feita pelo secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, está uma recomendação de Luciano Huck. O porque isso deveria ser algo positivo eu realmente não entendo.
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