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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O Leão no Inverno (The Lion In The Winter - 1968)

O Leão no Inverno começa com um ritmo um pouco arrastado e talvez até desinteressante, porém aos poucos as interpretações e diálogos bem escritos tornam esse filme inacreditavelmente bom.
Finalmente eu entendi porque Peter O'Toole era tão reverenciado como ator. A interpretação dele como Rei Henry da Inglaterra é uma das melhores que eu já vi e o fato de estar acompanhado por uma interpretação igualmente magistral de Katharine Hepburn. Enquanto O'Toole demonstra uma sagacidade e inteligência absurdas em seu personagem, Hepburn, que interpreta a Rainha Eleanor, demonstra uma frieza de quem apenas brinca com sentimentos incluindo os seus próprios.


O Leão no Inverno é fruto de uma era em que os diálogos eram rápidos e mordazes, um pouco irreal se considerarmos que a maioria das pessoas não conseguiria ter praticamente todas as suas frases girando em torno de respostas rápidas e provocativas, mas é exatamente assim que acontece no filme e isso serve apenas para tornar todos os personagens mais interessantes.
O filme marcou a estréia de Anthony Hopkins no papel de Ricardo Coração de Leão. Eu achei bastante interessante que um dos sub-plots é justamente a revelação de que o personagem de Hopkins é gay. Somado a isso o fato de o rei mencionar en passant que entre suas ex-amantes estão jovens rapazes, eu fiquei praticamente chocado com a coragem do filme. Na verdade ambas as épocas, a do filme (1968) e a da história (1183), me parecem mais progressivas do que a nossa nesse sentido. Uma triste constatação eu penso.
A trilha sonora é bastante escassa, mas sempre que é ouvida causa um impacto forte na atmosfera do filme.

O roteiro segue a história do Rei Henry II que após inúmeras revoltas mantém a sua esposa, Rainha Eleanor trancada em um castelo distante. Durante o Natal ela e Henry se encontram no castelo de Chinon para passar o feriado de Natal e receber o Rei da França, interpretado por Timothy Dalton (também em sua estréia no cinema). Juntam-se a eles seus três filhos com pretensões ao trono: John, o favorito de seu pai, porém obviamente incapaz e infantil, Geofrey, o irmão do meio, o mais engenhoso e inteligente dos três, e Richard, o mais bélico e capaz dos irmãos, favorecido por sua mãe na disputa do trono.
O roteiro em si não tem o mesmo nível das interpretações ou dos diálogos, há momentos interessantes porém o desfecho não resolve todas as questões levantadas e é um pouco irregular.
O que eu absolutamente não me canso de falar sobre o filme é a qualidade dos diálogos. Cada conversa, e mesmo praticamente cada fala dos personagens, tem uma segunda ou mesmo uma terceira camada de significado. Há uma complexidade que carrega o filme à um patamar superior ao que normalmente esse tipo de material teria se não tivesse falas tão inspiradas.
Baseado em uma peça de teatro o filme as vezes não consegue disfarçar bem suas origens, com várias cena e personagens se acumulando em demasia no mesmo ambiente, mas isso não chega a ser um problema na maioria das vezes.

Eu definitivamente não esperava gostar tanto desse filme e fiquei surpreendido com a qualidade do material. Já havia ouvido o mesmo ser mencionado como um clássico, mas realmente não sabia nada sobre a história em si. O que me levou a procurar o filme foi o jogo de rpg, eu queria descobrir algumas histórias clássicas sobre a realeza e gostei tanto do que descobri que já estou me preparando para assistir "Becket" de 1964 também com O'Toole no papel de Henry II.

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