Eu devo começar o meu post sobre esse livro esclarecendo a
motivação para comprá-lo. Primeiramente eu gosto do fato de o autor Drauzio
Varella ser um ateu assumido, ainda que ele não faça disso uma bandeira. Eu já
vi ele mencionando em uma entrevista ter sofrido preconceito por seu ateu e eu
de alguma forma acredito estar dando algum tipo de contribuição para que esse
tipo de preconceito acabe ao comprar livros do autor. Um pouco romântico
da minha parte, é verdade, mas ainda sim
motivação suficiente para eu pegar o livro na livraria e considerar a compra.
Evidente que o assunto em si me parece bastante interessante por si só, uma
visão da vida dos carcereiros contada através da experiência de um médico que
tem mais de 23 anos de trabalho voluntário em presídios do Brasil.
O livro é praticamente um complemento à Estação Carandirú,
best-seller do mesmo autor que acabou gerando o filme Carandirú. Porém desta
vez acompanhamos as histórias pelo ponto de vista daqueles que tentam manter a
ordem e a segurança dentro dos presídios: os carcereiros.
Esse foi o primeiro livro de Varella que eu li e fiquei
feliz em descobrir que o estilo do escritor é bastante agradável. O ritmo
rápido e objetivo proporciona uma leitura envolvente e fascinante. Eu inclusive
sugiro ele como re-introdução à leitura de livros de pessoas que perderam o
hábito da leitura. Cada capítulo contem uma história ou assunto e o desfecho
quase sempre é rápido, eficaz e contundente.
Varella apresenta uma grande obra quando fala sobre as condições
precárias das cadeias brasileiras, a tratamento desumano dos prisioneiros e
suas crueldades praticamente indescritíveis, os perigos constantes da profissão
de carcereiro, os momentos de heroísmo de colegas de profissão, e o destino dos
que sucumbem ao suborno.
Infelizmente a leitura acaba se tornando um pouco confusa
quando Varella se dispõe a narrar acontecimentos vivenciados por carcereiros que
por sua vez lhe contaram suas histórias, em algumas a transição dos pensamentos
e impressões do autor para o relato em si não é tão fluído quanto se esperaria
e fica ainda pior quando ele relata situações mais tensas que tem um desenrolar
mais imediato e cuja a impressão é de que, apesar de extremamente
interessantes, pertecem a outro livro.
Mas não se engane quanto a qualidade do livro, esses são
erros menores que não comprometem o valor do conhecimento aqui passado.
Eu fiquei com a clara impressão de que o médico sobrepõe o
escritor no caso de Varella e ele é na maioria das vezes conciso , claro e
direto em suas informações. E quando ele decide usar esse connhecimento para
deixar clara sua opinião sobre o problema das cadeias ele o faz com uma clareza
e senso de realidade assustadores.
Eu sempre fui o tipo de criança que me fascinava com as
histórias de vida de pessoas mais velhas e sempre adorava passar horas ouvindo
um tio ou amigo dos meus pais relatar sobre sua profissão ou outros relatos que
para mim traziam informações de um mundo desconhecido. Se você tinha um avô ou
tio contador de histórias com uma vida interessante então você sabe exatamente
o que encontrar no livro de Varella, um relato de vida que fascina aqueles que
não tem conhecimento do que acontece por trás dos muros dos presidíos e
possivelmente educa aqueles com uma simplória opinião pronta para esse tipo de
problema.
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