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domingo, 6 de outubro de 2013

O Preço do Ateísmo

Como já me foi alertado os meus textos que abordam religião sempre tendem a focar mais nos defeitos da religião do que nos aspectos positivos do ateísmo. Eu tenho minhas próprias convicções de porque isso acontece, porém ao invés de falar sobre as pseudo-maravilhas de um grupo praticamente inexistente de tão heterogêneo, eu vou direto para os problemas que o ateísmo tráz. Talvez problema não seja a palavra adequada, apesar de certamente haverem inconveniências, há um preço a ser pago quando você se define como ateu e passa a ter ações que corroboram essa visão.
Primeiro deixem-me eliminar logo de início os problemas causados pelo preconceito ou pelo fato de que vivemos em um mundo predominantemente religioso, essas infelizes situações não são culpa do ateísmo e não me interessa abordá-las agora. 
O foco aqui é aquilo que seria o preço a ser pago mesmo que a utopia ateística fosse atingida e os ateus fossem tratados igualmente e as religiões não tivessem influências trágicas na politica e na sociedade. 
A "falta de sentido" da vida é algo que pode ser bastante inquietante quando não nos consideramos parte de uma criação com um propósito transcedental e sem um deus particular para atender as nossas preces ou nos proteger de injustiças ou mesmo nos recompensar por nossas virtudes. Tudo pode perder o sentido se não existirem outras influências benignas na vida da pessoa. Diversas vezes eu ouvi o argumento de que sem Deus nada nos impede de cometer os crimes mais hediondos ou sucumbir às mais degradantes tentações. De fato, nada nos impede. O ateísmo não é uma doutrina, ele não oferece absolutamente nada em troca do que ele tira e essa é exatamente a sua proposta. 
Acreditem em mim quando eu digo que essa é uma questão bem mais presente na vida do ateu do que o céu ou o inferno  a vida daquele que acredita. 
O fato de que só temos uma vida para viver e nenhuma esperança de eternidade após isso põe em perspectiva toda a sua vida todos os dias. Nossa rápida existência nesse pequeno planeta azul é bastante insignificante e quando consideramos que esse é possivelmente o único intervalo que a sua consciência vai existir esse é um pensamento bastante perturbador e potencialmente depressivo. Esse tipo de percepção fica exponencialmente maior com a idade. Quanto mais velhos ficamos mais desolador passa a ser esse pensamento. É bastante triste descobrir que sua existência vai cessar e você não vai ter realizado a maioria dos seus sonhos, que o seu nome não será lembrado, que você nunca terá a chance de corrigir certos erros e nunca mais verá as pessoas que você ama. 
Acima de tudo o preço do ateísmo é que ele expõe exatamente quem você é. Ele retira as fantasias e não põe nada no lugar. Só resta você ali. Se isso é bom ou ruim cabe a cada um de nós preencher essa lacuna. 
O ateísmo é a pessoa que rudemente te diz que você está feia quando você só quer ouvir que está bonita. Que te dá um tapa na cara quando você só quer um abraço. É o único que te diz a verdade quando tudo o que você quer ouvir é uma mentira. 

Guerra Mundial Z (World War Z)


 Minhas expectativas para Guerra Mundial Z eram consideravelmente baixas. Os problemas nas filmagens, as brigas durante a pós-produção, a notícia de que foram necessárias refilmagens extensas de todo o terceiro ato do filme pareciam definir a qualidade do produto. O trailer não ajudou muito ao focar no que parecia serem zumbis ainda mais rápidos do que estamos acostumados a ver desde Madrugada dos Mortos e demonstrando um comportamento de mente coletiva, essa parecia ser uma ideia particularmente boba ou pelo menos muito fantástica para o tom mais realista do filme. Tudo parecia estar se encaminhando para um desastre de grandes proporções, porém eu fico bastante feliz em dizer que o filme é na verdade um dos melhores do gênero zumbi dos últimos anos.


O filme foi baseado no livro homônimo de Max Brooks. Eu já li o Guia de Sobrevivência Zumbi do mesmo autor e achei o texto bastante leve e engraçado, obviamente o tom de Guerra Mundial Z deve ser bem diferente pois a trama apresentada no filme se leva absolutamente a sério, sem aquele sorriso cínico presente na ambientação da maioria das obras que envolvem zumbis hoje em dia.  
A trama do filme é posta em ação rapidamente e em questão de não mais que 10 minutos de filme os zumbis já estão presentes e dominando o mundo e a humanidade, como sempre, despreparada está encarando a sua extinção.


Brad Pitt interpreta Gerry, um ex-agente da ONU, que tem que salvar a família da ameaça zumbi enquanto é recrutado pelo governo para ajudar a encontrar algum tipo de cura para a praga que ataca em escala mundial. Um dos pontos interessantes aqui é que o personagem de Pitt é de fato um agente bastante treinado e capaz (tanto quanto possível) para lidar com situações extremas. É uma novidade bem-vinda finalmente assistir a um personagem que está preparado para agir em uma situação desesperadora como essa e Gerry acaba se mostrando cheio de recursos na maior parte do filme, capaz de improvisar baionetas e entender a transmissão do vírus zumbi em questão de segundos.


A história realmente tem um apelo bastante internacional e dá enfáse ao fato de que o problema esta acontecendo em escala global. Gerry e sua familia estão nos Estados Unidos mas logo o agente se vê envolvido no combate à zumbis na Coréia do Sul, Israel e Inglaterra.
Eu mencionei problemas na pós-produção do filme e isso se deu principalmente por que Brad Pitt e o estúdio não ficaram satisfeitos com a versão final do filme e demandaram a completa refilmagem do terceiro ato do diretor Marc Forster. Originalmente o terceiro ato do filme envolveria Gerry em Moscou e mostraria grandes batalhas épicas contra os zumbis. Isso acabou sendo substituído pela trama na Nova Escócia que está presente no filme.
Normalmente eu fico do lado do diretor e de sua versão artística de sua obra conforme originalmente imaginada, mas eu posso dizer que dessa vez as mudanças funcionam excepcionalmente bem e o filme tem sua conclusão recheada de tensão e suspense mantendo o seu ponto forte naquilo que menos se esperaria de um filme que foi tão radicalmente modificado: o roteiro bem escrito.
A partir de um ponto específico do filme a trama deixa claramente de lado uma escala maior e mais épica e acaba focando em uma história sólida e amarrando a trama em detrimento de efeitos especiais e cenas de batalhas mais amplas.


As grandes qualidades aqui são o roteiro e a ambientação. A história é bem imaginada e quando parece que nada pior pode acontecer com Gerry a situação fica ainda mais difícil, porém o filme muda a sua velocidade sabiamente antes de perder o controle. Os demais aspectos do filme variam entre o ordinário e o razoavelmente bom, mas nada se destaca. As interpretações dos atores coadjuvantes não prejudicam o filme mas também não destacam ninguém. A trilha sonora é de Marco Beltrami, que mais uma vez confirma que ele só sabe fazer músicas que podem não comprometer o filme mas ninguém vai conseguir lembrar delas cinco minutos depois de ouvi-las.
No geral Guerra Mundial Z é  um filme sólido com ação arrebatadora, uma ambientação eficiente e uma boa história para contar. Aparentemente em algum momento os produtores tiveram que escolher entre serem fiéis ao livro que inspirou o filme ou romperem de uma vez com a história original. Eles escolheram a segunda opção e na minha opinião eles acertaram em cheio.


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