Pesquisa da Fundação Perseu Abramo sobre preconceito no Brasil mostra que aversão aos não-crentes é maior do que a dedicada aos usuários de drogas, travestis e prostitutas.
Vinícius Carvalho
vcarvalho@odiariomaringa.com.br
Eles não dizem amém, não batem na madeira e só jejuam antes de exames clínicos, ou para emagrecer. São sempre minoria, rejeitados pela esmagadora massa de cristãos, muçulmanos e outros crentes do mundo. A maior parte deles não está interessada em conflito, contudo os ateus são o grupo que causa maior repulsa no brasileiro, de acordo com pesquisa da Fundação Perseu Abramo, publicada em fevereiro.
Numa análise detalhada sobre o preconceito no Brasil, o levantamento aponta a existência de intolerância relacionada à orientação sexual, crença religiosa, dependência química e situação econômica.
O grupo apontado como mais odiado, na opinião dos entrevistados, é a “gente que não acredita em Deus”. Eles despertam repulsa ou ódio em 17% das pessoas e antipatia em outros 25%, superando a aversão causada por usuários de drogas, garotos de programa, transexuais, travestis, e prostitutas.
Nem ver
Entre as pessoas que os entrevistados afirmaram ter menos vontade de ver ou encontrar na rua, os ateus aparecem em segundo lugar, com 25% – atrás apenas dos usuários de drogas (35%).
A discriminação contra o não-crente é aberta e exercida livremente. No Dicionário Houaiss, entre os sinônimos atribuídos ao verbete “ateu”, estão “ímpio” e “herege”. No entanto, os descrentes, em geral, não estão interessados em atacar nenhuma religião ou profanar os símbolos sagrados da maior parte da humanidade.
“Muitas pessoas acham que se você não tem um pastor, não é ovelha, e se não é ovelha, então é lobo”, diz o estudante de Farmácia no Cesumar, Gustavo Silva Santos, ateu e morador de Maringá.Ele afirma que, quando fala sobre o assunto, as reações são quase sempre negativas. “Os olhares são feios, os comentários desconfiados”, comenta.
Fora do manual
Para Gustavo, a aversão aos ateus se deve ao fato de muita gente acreditar que as concepções de bem/mal e certo/errado estarem necessariamente associadas à crença religiosa.
“O ateísmo é tido como fora dos padrões clássicos de bom comportamento, fora dos ritos sociais comuns. Não nos enquadramos do manual de como ser bom, segundo a Igreja: cultuar a Deus, casar, batizar os filhos, crismá-los e manter talões de dízimo”, diz Gustavo. “Como esse padrão é muito mais forte em pequenos centros, ser ateu ou até agnóstico em Maringá é problema grave”, destaca.
Segundo apurou O Diário, discriminação contra ateus é sentida até no meio jurídico. Muitos daqueles que não creem em Deus, como é o caso de um advogado ouvido pela reportagem, começaram a questionar as religiões com ajuda da ciência.
Vinícius Carvalho
vcarvalho@odiariomaringa.com.br
Eles não dizem amém, não batem na madeira e só jejuam antes de exames clínicos, ou para emagrecer. São sempre minoria, rejeitados pela esmagadora massa de cristãos, muçulmanos e outros crentes do mundo. A maior parte deles não está interessada em conflito, contudo os ateus são o grupo que causa maior repulsa no brasileiro, de acordo com pesquisa da Fundação Perseu Abramo, publicada em fevereiro.
Numa análise detalhada sobre o preconceito no Brasil, o levantamento aponta a existência de intolerância relacionada à orientação sexual, crença religiosa, dependência química e situação econômica.
O grupo apontado como mais odiado, na opinião dos entrevistados, é a “gente que não acredita em Deus”. Eles despertam repulsa ou ódio em 17% das pessoas e antipatia em outros 25%, superando a aversão causada por usuários de drogas, garotos de programa, transexuais, travestis, e prostitutas.
Nem ver
Entre as pessoas que os entrevistados afirmaram ter menos vontade de ver ou encontrar na rua, os ateus aparecem em segundo lugar, com 25% – atrás apenas dos usuários de drogas (35%).
A discriminação contra o não-crente é aberta e exercida livremente. No Dicionário Houaiss, entre os sinônimos atribuídos ao verbete “ateu”, estão “ímpio” e “herege”. No entanto, os descrentes, em geral, não estão interessados em atacar nenhuma religião ou profanar os símbolos sagrados da maior parte da humanidade.
“Muitas pessoas acham que se você não tem um pastor, não é ovelha, e se não é ovelha, então é lobo”, diz o estudante de Farmácia no Cesumar, Gustavo Silva Santos, ateu e morador de Maringá.Ele afirma que, quando fala sobre o assunto, as reações são quase sempre negativas. “Os olhares são feios, os comentários desconfiados”, comenta.
Fora do manual
Para Gustavo, a aversão aos ateus se deve ao fato de muita gente acreditar que as concepções de bem/mal e certo/errado estarem necessariamente associadas à crença religiosa.
“O ateísmo é tido como fora dos padrões clássicos de bom comportamento, fora dos ritos sociais comuns. Não nos enquadramos do manual de como ser bom, segundo a Igreja: cultuar a Deus, casar, batizar os filhos, crismá-los e manter talões de dízimo”, diz Gustavo. “Como esse padrão é muito mais forte em pequenos centros, ser ateu ou até agnóstico em Maringá é problema grave”, destaca.
Segundo apurou O Diário, discriminação contra ateus é sentida até no meio jurídico. Muitos daqueles que não creem em Deus, como é o caso de um advogado ouvido pela reportagem, começaram a questionar as religiões com ajuda da ciência.