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quinta-feira, 16 de julho de 2015

Dança Macabra - Stephen King


Sempre soube que as minhas impressões sobre a obra de Stephen King tinham uma grande chance de estarem erradas, afinal meus únicos contatos com o tão aclamado "Mestre do Terror" sempre foram através das adaptações de seus livros e contos para o cinema e tv.
Por essa visão de segunda mão sempre tive a percepção de que as melhores adaptações de seus livros eram os que não envolviam terror e focavam mais no elemento humano, como: "Um Sonho de Liberdade" e "À Espera de Um Milagre" ambos adaptados por Frank Darabont e "Conta Comigo" de Rob Reiner.
Também tinha consciência de que mergulhar nesse universo "Kingniano" poderia ser uma tarefa bastante árdua já que ele tem se mostrado um escritor prolífico nos seus mais de 40 anos de carreira e seus leitores tem o hábito de não se restringir a apenas uma obra do autor.
Por onde exatamente começar então?

Gosto de livros, mas sou um cinéfilo em primeira lugar, então gosto de ler livros que tenham adaptações para o cinema (minhas mais recentes compras foram Tubarão de Peter Benchley e Jurassic Park de Michael Crichton). Chega a ser  quase difícil encontrar algum trabalho de King que não tenha sido adaptado para o cinema ou tv. Então esse requisito seria fácil de cumprir, mesmo assim ainda não sabia exatamente iniciar.
Acabei por encontrar um livro que justamente parecia entregar o "feeling" cinematográfico que eu procurava juntamente com o sabor da escrita de King: Dança Macabra. Dos 54 livros escritos por King apenas 6 são não-ficção e Dança Macabra é justamente um deles.

Trata-se de um "estudo sobre o terror" onde King apresenta como as histórias de terror foram abordadas nas diversas mídias (rádio,cinema, tv e literatura) ao longo das décadas de 50, 60 e 70 e sua influência e repercussão na sociedade e a resposta da crítica.

A princípio eu considerei uma pena que o período analisado por King não fosse um com o qual eu me identificasse naturalmente. Obviamente para mim, nascido em 85, as referências naturais são os anos 90 e 2000, enquanto King, nascido em 47, aborda o período entre os anos de 1951 até 1980.
Quando King aborda os programas de rádio da época a maior parte de suas referências é completamente obscura para mim, porém quando ele começa abordar os filmes de terror eu tive a ideia de pesquisá-los e para minha surpresa a maior parte deles está disponível para visualização na internet (alguns até mesmo completos no YouTube).
Foi então que o livro se tornou absolutamente interessante para mim. Descobri várias pérolas e clássicos recomendados por King e realmente comecei a entender e ficar fascinado pela avalanche de referências e comparações despejadas pelo Mestre do Terror.

O livro foi originalmente escrito e publicado em 1981 e em muitos momentos se torna bastante datado, mas dada a forma e o tema abordados essa seria uma condição difícil de se evitar.

King constrói uma teoria bastante sólida de que filmes de terror bem sucedidos transformam medos sociais e intangíveis em projeções concretas. Alguns fazem de propósito enquanto outros acabam acertando por acaso, provavelmente também inconscientemente influenciados pelos mesmos medos que afetavam a sua geração.


O livro é conduzido mais como uma conversa entre amigos, do que como alguém determinado a convencer o seu interlocutor de algum ponto específico. Ele não martela suas opiniões, ele apenas planta sementes de conceitos e passa para a próxima antes mesmo de ter a certeza de que a última ideia apresentada realmente se afixou.

Um dos defeitos do livro para mim é que os filmes mencionados são apresentados sempre com seu nome de lançamento no Brasil, quando na verdade eu estou bem mais familiarizado com o título original, em inglês, e também porque muitos dos filmes tiveram seus títulos modificados em re-lançamentos posteriores. Por exemplo, eu estava familiarizado com Omega Man, um filme com Charlton Heston, mas eu não sabia que o título no Brasil era "A Última Esperança da Terra". A inclusão do titulo original como nota de rodapé ou mesmo ao lado da tradução teria ajudado bastante a leitura.

Um comentário que deve ser valorizado é que a tradução feita por Louisa Ibañez é perfeita. Não percebi nenhum erro de tradução, o que infelizmente tem sido uma constante mesmo em grandes lançamentos editoriais.

Devo admitir que essa não é de fato uma introdução à obra de King, mas serviu para me mostrar o quanto o autor é apaixonado pelo seu tema principal e como seu conhecimento não se restringe apenas a literatura mas também a toda uma gama de outras mídias. Com um total de 463 páginas é uma leitura pesada e que requer atenção, eu recomendaria que o leitor tenha acesso a internet enquanto lê pois a pesquisa das citações de King tornam o livro infinitamente mais interessante.
Agora com licença, mas Christine me espera...

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