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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Livros Que Mudam A Vida: Guia Politicamente Incorreto da Filosofia

Eu sou uma criança. Sei disso por que depois de passar quase toda a minha uma hora de intervalo de almoço escolhendo um livro na Saraiva escolhi o com a capa mais colorida.
Eu me devo uma certa indulgência e admitir que essa não era a minha intenção inicial. Eu queria comprar a biografia de Johnny Cash, quando isso não foi possível tentei algum livro de Christopher Hitchens. Quando essa possibilidade também não se concretizou me liberei em um safári literário que normalmente não trás bons resultados.
Avistei uma coleção de livros denominados "politicamente incorretos". Aparentemente eles estão tendo um bom volume de vendas pois não é a primeira vez que eu avisto um exemplar dessa coleção em um local de
destaque nas livrarias (mais tarde eu descobriria que eles estão na lista de mais vendidos da Revista Veja, isso teria despertado algumas desconfianças). Dei uma olhada no “Guia” da América Latina (havia também um sobre o Brasil) e identifiquei rapidamente algumas bobagens de direita sobre personalidades que construíram a história da América Latina. Quando eu digo bobagem eu não quero dizer que necessariamente duvido da informação de que Che Guevara queria matar trabalhadores vagabundos, apenas estou ciente de que a informação está ali para invalidar outras ações do homem, cuja validade poderiam ou não estar associadas a esse fato. Não que eu acredite que haja uma explicação válida para matar trabalhadores, independente de sua produtividade, mas isso não invalida automaticamente tudo que o homem fez ou pensou.
Sendo assim dispensei esse título e me interessei pelo “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia”, obviamente da mesma série, mas de um autor diferente. A contra-capa trazia novamente algumas informações bizarras sobre grandes filósofos. A última vez que me interessei por esse tipo de informação (curiosidades sobre grandes figuras históricas) descobri que Darwin tinha crises de vômito com medo da Teoria da Evolução e que Marx pedia dinheiro emprestado a amigos. Essas informações não me ajudaram no entendimento de seus
respectivos textos mas ajudaram a desmistificar essas personalidades para que eu pudesse ter mais confiança em entender (e analisar criticamente) o que eles diziam. Imaginei que seria positivo aplicar o mesmo princípio a Nietzsche, Platão e Foucault.
Eu estava redondamente enganado com o conteúdo do livro.
Em minha defesa eu devo dizer que obviamente a intenção do livro é de induzir o possível leitor ao mesmo erro que eu cometi. A arte da capa e mesmo as citações selecionadas na aba do livro tem a intenção de apresentar a obra como sendo um guia "no nonsense" sobre a história da filosofia.
Me decepcionei ao descobrir ainda na introdução que o o livro se trata de um caso contra o "politicamente correto" por parte do autor Luiz Felipe Pondé.
A lógica de Pondé pode ser resumida como "toda a forma de politicamente correto é hipócrita". Essa é uma analise cruel porém honesta e funciona razoavelmente bem. Infelizmente Pondé "estica" essa lógica para abraçar toda uma outra argumentação que não tem base alguma.
 Ele se identifica como politicamente incorreto, explica que tudo que é politicamente correto é errado e passa a entender que como ele é politicamente incorreto tudo que ele não gosta é politicamente correto, portanto errado... Entendeu? Essa lógica infantil é aplicada à esquerda política, as feministas, aos negros, aos gays, aos indíos, aos pobres e a todo grupo cujo senhor Pondé acredite (em uma esfera pessoal) que tem posições políticas de "mulherzinha". Tudo isso é classificado como "Politicamente Incorreto" ou "Praga PC" como ele chama. 
Não vem como surpresa perceber que o autor homem, rico, branco e heterossexual. Não que isso seja errado por si só, apenas não pode ser concebido como coincidência que tudo que é contrário a esse padrão apresentado pelo autor seja (na opinião dele) erroneamente apoiado por uma sociedade infestada pelo politicamente correto. 
Há pontos válidos comentados por Pondé como a menção de que os fundamentos da democracia (liberdade e igualdade) são contra-pontos que jamais permitirão um tipo de estrutura democrática eficiente. Porém esse lampejos de inteligência são soterrados por pérolas da imbecilidade como: "Todas as feministas são feias, por isso são feministas".
Há uma arrogância palpável que causa um certo repúdio muito real ao se ler o livro. Aparentemente ser politicamente incorreto perdeu todo o seu charme e foi substituído por simplesmente ser desagradável.
O tipo de atitude arrogante é até esperado de pessoas que dominam seu assunto com maestria, eu já me referia a pessoas que "conquistaram o direito de ser arrogantes", esse não é o caso de Pondé. Em determinado momento ele menciona ao que as americanas se referem a um homem considerado um bom partido como "keeper" e que isso se daria ao fato de este ser um homem que apresenta o perfil "mantenedor". Alguém teria a capacidade de mantê-las, sustentá-las e protegê-las. Sendo conhecedor do termo e já tendo ouvido a expressão proferida por diversas mulheres que não tinham essa visão eu posso com segurança afirma que a expressão "keeper" se refere a alguém ao qual se deve "manter", ou "segurar" devido a ser alguém bom demais. Isso poderia ser um simples erro de tradução mas Pondé constrói todo um capítulo e um conceito machista sobre essa tradução equivocada.
Eu poderia simplesmente dizer que o livro fosse evitado a qualquer custo mas o fato é que ele é ótimo para pensar. Normalmente leio livros com os quais eu concordo de antemão e percebi que quando discordamos do autor somos instigados a um pensamento mais crítico.
O grande valor desse livro reside em uma frase de Dudley Field Malone: "Eu nunca em minha vida aprendi nada de algum homem que concordasse comigo."

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