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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Hitler estava certo.


É isso mesmo: Hitler estava certo... Esses biscoitos estão uma delícia!
Algum tempo atrás me deparei com uma camiseta com essas inscrições e achei fascinante a lógica da coisa.
Uma declaração de Hitler, nesse caso a fantasiosa opinião dele sobre biscoitos fictícios, não pode ser interpretada universalmente como errada porque a figura histórica do personagem é universalmente (e justificadamente) interpretada como errada.
Esse abandono lógico da verificação de uma ideia singular em função da análise da figura como um todo é um fenômeno recorrente no meu dia a dia. Óbvio que eu acho que devemos também considerar além do que estão falando, quem está falando. Mas ideias não devem ser descartadas por que quem as está pronunciando esteve errado antes.

Onde eu quero chegar? Me acostumei a perceber  em discussões que quando eu discuto com alguém quase sempre a lógica aplicada sobre o argumento em questão é falha. Estamos debatendo a validade do argumento “X” e enquanto eu tento analisar as considerações específicas sobre esse argumento a outra parte costuma apontar situações nas quais eu estava errado e não rebater os argumentos que estou apontando. Isso acontece quando debato situações com a minha família, esposa, amigos, e colegas de trabalho. Dentre esse grupo o único que eu fico grato que apresente essa deficiência na análise lógica da situação são meus colegas de trabalho. Grande parte do fato de eu ter um emprego se deve ao fato de conseguir analisar a situação de forma clara e contra-argumentar logicamente. Mas e quanto aos meus amigos e familiares ou mesmo inimigos?
Desde a adolescência eu não tenho mais a confiança necessária para acreditar que apenas eu estou certo em situações nas quais a oposição tem números esmagadores.
O meu dilema tem traços “alienistas” quando eu considero que eu seria um debatedor eficiente e todos os demais ineficientes. O próximo passo natural é considerar que eu na verdade é que debato de maneira equivocada e todos os outros estão certos. Deveríamos então provar que uma ideia está enganada não pelo mérito da ideia mas pelos méritos das ideias anteriores do atual expoente delas?
Talvez aqui caiba o esclarecimento de que esse tipo de análise só é verídica em discussões mais informais e próximas do nosso dia-a-dia. Quando tratamos de questões mais distantes temos justamente o distanciamento necessário para ponderarmos mais as ideias em si. Não que nossas duvidas diárias e cotidianas tenham uma impacto menor. Pelo contrário elas nos afetam imediatamente e deveriam ser consideradas mais claramente.
Depois de mais de um ano morando junto com a minha esposa, e depois de ela ser vítima desse tipo de análise diversas vezes, ela começou a se armar e apontar para mim cada vez que eu incorria nesse erro que por tanto tempo eu tive a petulância de me julgar imune. Acabei percebendo que eu fazia isso tão frequentemente quanto os outros. Quando me é útil eu abandono a lógica e passo a atacar outras falhas do meu interlocutor e esqueço o real mérito da argumentação envolvida.
Nunca é tarde para aprender que:

Mesmo um relógio parado está com o horário certo duas vezes por dia

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