
Com todo o cínico prazer que acompanha a leitura da biografia de um astro podemos aprender detalhes obscuros e lamentáveis de Kurt Cobain. Eu não tinha a menor idéia que o envolvimento de Kurt com a heroína havia sido tão grande, ou que ele sentia uma profunda aversão pela maioria dos compromissos sociais do Nirvana. Esses e outros detalhes são esmiuçados com esmero por Cross que entrega uma história pesada mas fácil de ler. O único porém fica justamente por conta do detalhamento excessivo. O livro foi bastante critícado por Cross incluir suas impressões pessoais sobre como Kurt estaria se sentindo como fato. Ainda que isso realmente leve a uma impressão parcial da história, funciona muito bem pois é realizada de forma competente por Cross. Há muitos comentários na Internet dizendo que essa seria a versão da história "aprovada" por Courtney Love, e de fato o retrato pintado da rockeira é bem mais afetuoso do que se viu na mídia na década de 90. Uma decepção do livro, mas não necessariamente uma falha, é que o lado musical é bastante ignorado. Acredito que o que mais me interessava na leitura era descobrir como certas músicas e letras se "encaixavam" na vida do ícone de uma geração, mas infelizmente fora algumas citações sobre About a Girl e Smells Like Teen Spirit o assunto passa bastante desapercebido. Além dos dados curiosos (e quase inacreditáveis) sobre a vida de Cobain, ele morava dentro do carro pois não tinha dinheiro para alugar uma casa quando "Smells Like Teen Spirit" estava no topo das paradas, o que realmente impressiona no livro é o envolvimento de Cobain com as drogas. Nos últimos 20 anos aprendemos a contra-gosto a ter uma tolerância maior a casos extremos como o de Kurt (que acabou se suicidando), aprender a história de alguém desde o nascimento até o fundo do poço do vício de heróina de certa forma traz de volta o choque da questão de um assunto que há muito tempo deixou de ser novidade.
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